Fechamento 2
HISTÓRIA DA TECNOLOGIA EDUCACIONAL
Ao tratarmos de novas abordagens de comunicação na escola,
mediadas pelas novas
tecnologias da informação, estamos tratando de Tecnologia
Educacional.
Uma das principais referências nesta área é o trabalho de
Larry Cuban , professor de
educação da Stanford University, intitulado Professores e Máquinas: O Uso da
Tecnologia na Sala de Aula desde 1920. Cuban estudou a
introdução do rádio, filme, TV
e computador em escolas norte-americanas, abrangendo a
literatura desde o início
deste século até meados da década de oitenta. 13
Novas Tecnologias na Sala de Aula: Melhoria do Ensino ou
Inovação Conservadora?
Sua principal conclusão é que o uso de artefatos
tecnológicos na escola tem sido uma
história de insucessos, caracterizada por um ciclo de quatro
ou cinco fases, que se inicia
com pesquisas mostrando as vantagens educacionais do seu
uso, complementadas por
um discurso dos proponentes salientando a obsolescência da
escola. Em cada ciclo, uma nova seqüência de estudos aponta
prováveis causas do pouco sucesso da inovação, tais como
falta de recursos, resistência
dos professores, burocracia institucional, equipamentos
inadequados.
Cuban nos mostra coisas interessantes, como o trecho de um
discurso de Thomas
Edison (inventor do telégrafo, do gramofone e da lâmpada
elétrica), prevendo, em 1913,
que os livros didáticos se tornariam obsoletos nas escolas e
que, usando filmes, seria
possível instruir sobre qualquer ramo do conhecimento
humano. Vejo as novas
tecnologias como mais um dos elementos que podem contribuir para melhoria de
algumas atividades nas nossas salas de aula. Por outro lado,
também não adoto o
discurso dos defensores da nova tecnologia educacional, que
mostram as mazelas da
escolas (algo muito fácil de se fazer), deixando implícito
que nossos professores são
dinossauros avessos a mudanças.
No início dos anos oitenta iniciaram-se as primeiras
políticas públicas em informática na
educação, no contexto mais amplo da reserva de mercado para
informática.
Foram bolsistas de pesquisa que hoje em boa parte são
pesquisadores nos vários
campos da educação, com trabalhos em Informática Na
educação.
Na época, a contradição entre tecnologia de ponta e escolas
precárias era mais evidente,
uma vez que os computadores eram máquinas mais caras e não
estavam tão
Professora de
Sociologia da Ciência do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT, onde
também trabalha Seymour Papert, autor da linguagem LOGO.15
Novas Tecnologias na Sala de Aula: Melhoria do Ensino ou
Inovação Conservadora?
disseminados na sociedade como hoje. Aprendemos que a
expectativa de
administradores, professores, alunos e pais era que se
ensinasse informática na escola,
não no sentido de uso pedagógico de computadores,[vi]
[vii] nos levando a explorar a
introdução da informática na escola como uma mistura de
Informática Na educação e de
preparação para o trabalho, tentando usos pedagógicos das
ferramentas de software
utilizadas fora da escola. Com o término do EDUCOM,
foi
lançado um programa de Centros de Informática Na educação
nos estados, CIEDs ,
considerado um sucesso por alguns, mas que na realidade praticamente não afetou as salas de aula na grande maioria
do país.
INOVAÇÃO CONSERVADORA
O fato de se treinar professores em cursos intensivos e de
se colocar equipamentos nas
escolas não significa que as novas tecnologias serão usadas
para melhoria da qualidade
do ensino. São aplicações da tecnologia que não exploram os
recursos únicos
da ferramenta e não mexem qualitativamente com a rotina da
escola, do professor ou do
aluno, aparentando mudanças substantivas, quando na
realidade apenas mudam-se
aparências.
A história da tecnologia educacional contém muitos exemplos
de inovação conservadora,
de ênfase no meio e não no conteúdo. Devido ao efeito
dramático, sedutor, da mídia, em
certos casos a atenção era concentrada na aparência da aula,
tomando-se como algo
“dado” o conteúdo veiculado, seja na sala de aula por
transparências ou filmes, ou pela
difusão ampla de conteúdos, através da TV, do rádio ou mesmo
de livros textos cheios
de figuras, cores, desenhos, fotos. A inatividade (física e
mental) do aprendiz é reforçada pelo ambiente da sala,
geralmente à meia luz e com ar
condicionado. Como veremos mais adiante, tais tecnologias
amplificam a capacidade
expositiva do professor, reduzindo a posição relativa do
aluno ou aluna na situação de
aprendizagem.
Além do computador propriamente dito, outros artefatos de
ensino vem sendo criados
com a tecnologia da informática. Em uma de minhas aulas, um
aluno-professor fez uma
observação sobre um quadro de pincel que produz na tela do
computador do aluno
aquilo que for escrito pelo professor. Podem ser usados
quando se deseje que o 17
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Inovação Conservadora?
aluno não se distraia copiando detalhes, pedindo-se logo
depois que ele ou ela trabalhe
com o material impresso copiado do quadro eletrônico. Os
alunos também cansam-se facilmente após o efeito da
novidade. Como ocorre em outras áreas da atividade humana,
professores e
alunos precisam aprender a tirar vantagens de tais
artefatos.
Embora devamos perseguir o ideal de uma aprendizagem
estimulante e auto motivadora
- em salas de aulas
ricas em recursos e com respeito à individualidade e espontaneidade
do aprendiz - sabemos que além do prazer da descoberta e da
criação, é necessário
disciplina, persistência, suor, tolerância à frustração,
aspectos do cotidiano do aprender
e do educar que não serão eliminados por computadores.
UMA CONCEPÇÃO FENOMENOLÓGICA DA
TECNOLOGIA EDUCACIONAL
Desde minhas primeiras incursões pela literatura sobre as
tecnologias da informação e
da comunicação, aplicadas ou não à educação, tenho tido a
impressão de caminhar
sobre um grande mosaico de pedras desconexas, de formas e
tamanhos diversos. 21
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Inovação Conservadora?
Na tentativa de dar coerência ao todo, fui encontrar na
Filosofia (como não poderia
deixar de ser), um dos enfoques amplos que podem servir como
ponto de partida.
A Fenomenologia tenta abordar os objetos do conhecimento
tais como aparecem, isto é,
tais como “se apresentam” à consciência de quem procura
conhecê-los, tentando deixar
de lado toda e qualquer pressuposição sobre a natureza
desses objetos , Um dos primeiros passos neste
sentido é tentar rever a experiência psicológica do óbvio, do cotidiano, cujo
conhecimento é embotado pela
familiaridade. Através do instrumento há uma seleção de
determinados aspectos da realidade, com ampliações e
reduções.
Uma das conclusões de uma primeira análise fenomenológica
superficial é que a
tecnologia não é neutra, no sentido de que seu uso
proporciona novos conhecimentos
do objeto, transformando, pela mediação, a experiência
intelectual e afetiva do ser
humano, individualmente ou em coletividade; possibilitando
interferir, manipular, agir
mental e ou fisicamente, sob novas formas, pelo acesso a
aspectos até então
desconhecidos do objeto.
Dependendo do objeto, do sujeito (mais ou menos crítico), de
sua história e da situação
especifica, pode-se considerar as novas características
ampliadas do objeto como mais
reais do que aquelas conhecidas sem a ajuda de instrumentos.
Neste sentido, as realidades possibilitadas pelas novas
tecnologias da informação
podem ser alienantes, como nos relatos dos viciados em
computadores. Que aspectos do objeto
texto podem ser selecionados,
ampliados, reduzidos através do instrumento? O texto em
papel (em átomos, como diz
Filosofias da
práxis, de modo amplo, são aquelas que de algum modo consideram uma teoria de
ação como elemento primário, precedendo ou fundamentando uma
teoria do conhecimento
(Ihde, 1979).
Além de ampliar os sentidos, condicionando a experiência da
realidade, as tecnologias
da informática, amplificam aspectos da capacidade de ação
intelectual. Em ambos os casos, fracassos e sucessos são faces da mesma
moeda, com demonstra a história da produção humana de
conhecimento e
especificamente as histórias de sucesso em Informática Na
educação.
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